Tenho a maior vergonha quando me perguntam sobre meu planejamento para escrever. É que sou uma pessoa meio caótica e desorganizada, na escrita e na vida, e gosto de me guiar ao sabor do vento. Não é que eu não planeje, veja bem. Todo romance ou conto que escrevo teve algum grau de planejamento, o que significa que provavelmente tive a ideia geral e trabalhei aspectos principais antes de me lançar à construção do negócio. Mas tenho essa teoria de que não é possível planejar tudo. A graça de escrever está justamente em descobrir aquilo que pede passagem, invocar a realidade nos detalhes. Ir fazendo o caminho e descobrir para onde vai enquanto fabrica os tijolos. É uma beleza, um mistério, e uma graça de outro mundo.
Conheço escritores que são exímios planejadores, do tipo que fazem até planilha para detalhar o processo capítulo a capítulo, mas até eles sabem que só é possível ir até certo ponto. Isso porque, quando a escrita flui de verdade, não estamos mais no controle; é a história que já passou por nós, e agora os personagens decidem a si mesmos. Juro que é verdade. Que atire a primeira pedra quem começou um texto pensando em ir por um lado e acabou pegando outro completamente distinto. Vale para as ficções, para as não ficções, para os textos acadêmicos e qualquer outro. A gente nunca sabe o resultado final, porque as palavras estão fora do tempo. Elas se constroem no fluxo do presente, se materializam no passado e às vezes podem até prever o futuro, mas existem para eliminá-lo. Assim como é impossível saber como serão todos os nossos dias, por mais que tenhamos uma ideia dos compromissos, é impossível prever a direção de uma palavra.
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