O sonho da minha vida sempre foi publicar um livro. Eu idealizei isso desde que tinha, sei lá, onze anos de idade. Uma vez acabei com o cartucho de tinta da impressora da minha casa imprimindo uma história de cem páginas (e minha mãe quase arrancou meu pescoço). Ao longo das minhas mil e umas tentativas de publicar, fui rejeitada por quase todas as editoras do país. Até que, em 2021, dei match com a editora da Alfaguara, Luara França, uma querida e maravilhosa que gostou do meu trabalho e resolveu apostar no Apague a luz se for chorar. Esse ano publiquei meu segundo, Como se fosse um monstro, cuja capa tem a mesma identidade visual do primeiro (acho isso extremamente chique).
Agora estamos em época de Flip e há uma grande movimentação em direção a Paraty. Muitos autores vão com seus originais debaixo do braço, na esperança de encontrar um editor. Tudo isso me fez recordar o ano de 2019, minha primeira Flip, e também o lugar onde eu finalmente consegui encontrar uma casa editorial. Pois foi em um almoço despretensioso, tomando caipirinhas com cachaça Gabriela, que conheci a Luara. O Raphael Montes, meu amigo de longa data, foi quem nos apresentou pessoalmente – Luara já conhecia meus textos de outros carnavais. Eu me lembro que tínhamos dez minutos ou menos quando ela perguntou se eu tinha algum outro original pronto, e eu mencionei o Apague a luz. Conta para mim a história, ela pediu. Com spoiler?, perguntei. Ela disse que sim, então contei. Quando terminei os olhinhos dela brilharam. Quero ler, ela pediu. Eu já estava, obviamente, com o livro impresso na mochila – imprimido em uma gráfica, é claro, já não tenho impressora e nem sou tão besta de fazer isso em casa.
Apague a luz se for chorar saiu dois anos depois dessa conversa, no meio da pandemia. Penso com muito carinho naquela tarde ensolarada em que minha vida mudou. Lembro até da roupa que usava, do meu sentimento de confiança, eu me sentia bem porque não tinha nada a perder. Àquela altura, meus fracassos literários me sustentavam tanto quanto minhas pequenas vitórias. Eu era uma mulher que escrevia bem e sabia disso. Podia não ser a melhor escritora do mundo, mas estava disposta a me defender com unhas e dentes.
Nesse ano não vou à Flip. Isabel ainda é muito pequena e a minha vida, como vocês devem imaginar, está uma bagunça. Mas resolvi deixar aqui algumas coisas que aprendi desde aquele dia em que desci a serra de Paraty no golzinho branco da minha amiga, impressionada com o charme da cidade e a agitação de uma festa que respira literatura. Percebo, enfim, que eu não sabia quase nada no mundo em que estava prestes a ingressar. Espero que essa lista com doses cavalares de sinceridade ajude algum dos meus assinantes. E que, aos outros, ao menos sirva de curiosidade.
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