Queridos leitores, muita gente me pergunta como eu consegui publicar meu primeiro romance pela Alfaguara. Já contei a história várias vezes em outros textos das news, em vídeos e podcasts, mas diante de pedidos mais recentes resolvi contar de novo, dessa vez de forma diferente. Este é um texto escrito com antecedência para a leva do puerpério. Como vocês sabem, não tenho licença-maternidade e os assinantes pagos estão me ajudando muito, por isso o paywall. Foi mal. Considere apoiar a news hoje para ler o material exclusivo, ainda estamos com desconto de 15%. Assine com desconto aqui ou aqui:
Só consegui reparar na quantidade de calotas de carro espalhadas pelo caminho. Me disseram que a descida da serra maltratava os pneus dos viajantes, as peças pululavam com a fricção e morriam nos acostamentos. As nossas rodas seguiam incólumes, mas o cheiro de borracha queimada flutuava, fiquei com receio de que o golzinho estivesse pegando fogo. Minha amiga Mariana estava tranquila, porque não era sua primeira vez. Paraty aparecia nesse horizonte como uma mancha verde azulada que eu conhecia com nervosismo e muitos anos de atraso. Demoramos um pouco a encontrar a pousada, um lugarzinho charmoso e afastado do centro histórico, e enquanto guardavam nossas malas até o check-in fui me trocar no banheiro da recepção. Joguei uma água na cara, passei o desodorante providencial e retoquei a maquiagem. Meu atraso já era notável. Corri para pedir pelo amor de deus que as minhas amigas me largassem logo perto do meu compromisso, porque não era um compromisso qualquer. Eu tinha um almoço com uma editora. Uma que podia, finalmente, publicar meu livro.
O ano era 2019, um tempo menos confuso em que não existia ainda a pandemia e a Flip acontecia de forma regular em julho. Apesar do sol abafado, fazia frio. Nem tive tempo de processar direito aquele cenário excessivo, quase fantástico, de pescadores e barcos e morros (Paraty tem praia, tem montanha, rio e cachoeira, uma baita generosidade geográfica, Deus não precisava puxar tanto o saco).