Maria José Silveira é uma das minhas grandes referências na literatura brasileira contemporânea, e não apenas por ser uma conterrânea. Essa distinta e elegante escritora goiana tem uma das carreiras mais prolíficas do país (que deveria ser muito mais celebrada, na minha opinião). Para minha alegria, ela topou responder algumas perguntas para nossa coluna, exclusiva para apoiadores VIP. Considere assinar a versão paga newsletter para ler este e outros conteúdos que estou produzindo utilizando todo o meu carinho, meu tempo e meus talentos jornalísticos. Custa menos que um café com pão de queijo.
Seu primeiro livro foi lançado há mais de 20 anos e, desde então, você tem trilhado um lindo caminho com obras ricas e diversas. De lá para cá, o que mudou no cenário editorial e literário brasileiro? Quais são as principais mudanças que você enxerga?
Muitas. As redes sociais e os clubes de livro aconteceram e, com elas, um meio surpreendentemente importante para a divulgação dos livros cuja visibilidade agora não depende apenas da grande mídia. Novos escritores têm recebido muito mais atenção do que antes, quando era difícil encontrar uma editora que lhes abrisse espaço. No mesmo movimento, editoras independentes surgiram e continuam surgindo. As feiras literárias proliferaram. O mesmo acontece com as livrarias de rua que andam se multiplicando, cada uma com sua característica e charme, e as agências literárias apareceram com mais força, inclusive a nossa querida LVB&Co. É uma delícia ver tudo isso acontecendo, um lado do mercado que parece desabrochar.No entanto, se você passar por essa camada e se aprofundar, observará o enorme problema que, a rigor, permanece o mesmo: a descabida incapacidade nossa de encontrar os leitores. A pesquisa recente de “Retrato da Leitura no Brasil” detectou um fato assustador: não bastasse o Brasil nunca ter conseguido leitores condizentes com sua demografia, eles ainda estão diminuindo! Perdemos cerca de sete milhões de leitores desde o início dessa pesquisa, décadas atrás. E nesse cenário, a eterna queixa do mercado continuou a mesma, se não pior: os autores reclamam que vendem pouco; as livrarias, idem; as editoras não ficam atrás; as redes sociais e os clubes do livro não dão conta dos lançamentos novos. Isso acontece porque o que não melhorou – e talvez sequer chegou a ser tocado - foi um dos grandes gargalos do problema: o acesso maior aos livros que só pode ser resolvido com bibliotecas. E aqui me permita repetir, com minhas palavras, Felipe Lindoso, um dos maiores estudiosos das políticas públicas do livro, que estava na origem da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, e, por feliz coincidência, é meu marido: mais bibliotecas por todo rincão do país e escolas, junto com uma educação de melhor qualidade que possa fazer da leitura de um livro um deleite que amplie a mente e capacite o cidadão a sair de si, entender melhor o mundo, e pensar por si mesmo.
Você acha que é mais "fácil" ser escritora hoje?
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