No ano passado, fui assistir à palestra do escritor argentino Pedro Mairal na Bienal do Livro de Brasília, debaixo de uma chuva torrencial e incongruente, e aproveitei para trocar uma ideia na hora de colher o meu autógrafo. Publicado aqui no Brasil pela Todavia, o Mairal é autor dos romances Uma noite com Sabrina Love, que eu não gostei; A Uruguaia, que eu gostei médio; e Salvatierra, que eu amei. Acho que ele tem ainda um outro livro em espanhol que ainda não saiu por aqui. Diante de uma produção tão interessante, logo perguntei se ele andava escrevendo alguma coisa nova. “Todo mundo acha que estou escrevendo meu grande romance. Mas eu não estou escrevendo é nada”, ele brincou, segundo a minha tradução do espanhol para o goianês.
Já comentei algumas vezes aqui como é meu sonho de princesa receber uma bolsa para escrever um romance durante um ano ou conseguir uma residência literária no exterior focada em escrita, mas a verdade é que não sei como reagiria à pressão invisível da expectativa. Porque eu sou obcecada por fazer um grande romance, ou o meu melhor romance, pelo menos. Acho que ninguém escreve pensando em fazer um livro meia-boca. Se escreve, está fazendo isso muito errado. O que acontece é temos sempre grandes esperanças, como um atleta que treina exaustivamente para competir nas Olimpíadas.
Escrever um livro na prática, no entanto, é uma prova muito mais difícil do que parece, e nem sempre as coisas saem como o planejado. Às vezes confesso que gosto de cortejar essa minha obra-prima em silêncio, gosto de idealizá-la, de imaginar como será, esse livro tão rico e diferente, esse condensador de qualidades, superior aos dois irmãos que já saíram no mundo. Enquanto isso, não escrevo.
(abro um parêntese rápido para dizer que estou sim disponível para bolsas e residências literárias, se por acaso algum mecenas ou instituição estiver lendo isso, vai que eu escrevo meu grande romance...)