Outro dia vi no extinto Twitter (sim, eu me recuso a chamar de X) uma trend na qual as pessoas compartilhavam seus planejamentos e metas de escrita para este ano vindouro. Confrontar as respostas me deixou deprimida. Nunca fui a mestre do planejamento, e agora virei mãe. Lasquei-me nas tarefas mais básicas e planejar, no caso, virou uma ambição impossível. Mas decidi que faria bem, sim, o exercício. Não vou estabelecer metas, mas tentar evitar alguns lugares-comuns com os quais sempre me deparei enquanto escrevia. Segue a minha lista de resoluções de escrita 100% honestas para 2024:
Escrever um livro que tenha mais do que 170 páginas, que desenvolva seus personagens adequadamente e não tenha plot twist (foi ótimo me viciar nisso por um tempo, mas agora acho que chega). Meus dois romances publicados bebem muito do suspense, que por muito tempo foi e meio que continua sendo meu gênero preferido, mas agora quero experimentar um pouco mais com a literatura contemporânea, beber de gêneros diferentes – flerto com a ficção científica há um tempão – e tentar fazer algo mais robusto. Minha autocrítica me diz que sou muito apressadinha nos meus romances.
Terminar o livro acima.
Tentar ter menos crises ENQUANTO escrevo o livro acima. Sei que é impossível prometer que eu não entrarei em crise, pois esse é um estado essencial do artista, quase um pré-requisito, mas que eu seja gentil, aprenda a olhar com distanciamento e não apague tudo em um estado de ódio a mim mesma e meus parcos talentos.
Não desistir do livro acima e perseguir uma outra ideia que pode parecer melhor e mais adequada. No deserto da escrita de um livro, as novas ideias são sempre miragens que afastam a gente de terminar qualquer coisa. Quando você se dá conta, já desviou do caminho, caiu em um buraco e não consegue ir para lugar algum. Repetir o mantra: livro certo é aquele que a gente termina.
Entregar um conto para uma coletânea maravilhosa que contará com minha participação. Parar de escrever o conto na minha cabeça e escrevê-lo de verdade.
Evitar o uso de pronomes e metáforas. Que são como dois calcanhares de Aquiles prontos para me derrubar. DROGA OUTRA METÁFORA.
Parar de pesquisar coisas esquisitas e ler sobre aleatoriedades e escrever de verdade. Meu tempo agora é curto, tem a duração da soneca de um bebê de quatro meses, eu preciso parar de desperdiçar.
Não ter medo de fracassar no meu terceiro livro, só porque as pessoas gostaram moderadamente dos dois primeiros. Não é como se esperassem grandes coisas de mim, não tenho que atender nenhum patamar de excelência, e se as pessoas ficarem decepcionadas isso é um problema delas. Preciso apenas fazer o meu melhor e entregar aquilo que me deixa esteticamente feliz.
Acho que a meta acima serve para qualquer projeto criativo, aliás.
Parar de revisar os capítulos anteriores do livro novo antes de escrever os novos.
Cortar as frases de efeito que só estão lá para fazer com que eu me sinta uma escritorona fodona e portentosa.
Estudar. Só porque já publiquei dois livros, não significa que eu não tenha coisas a aprender. Planejo começar lendo alguns manuais de escrita criativa e newsletters de pessoas mais graduadas, até porque eles me inspiram, começando por este aqui.
Não ter medo de enfrentar o desconhecido. Tudo bem não saber direito para onde a história vai, escrever faz parte desse processo de descobrir.
Não compartilhar os capítulos do livro novo antes que estejam prontos.
Seguir abastecendo esta newsletter com relatos e confissões criativas. Faz com que eu me sinta, enfim, menos solitária.
São metas bem possíveis, dentro do meu universo. E vocês, têm alguma? Compartilhem aqui embaixo.
Recados paroquiais
Uma outra resolução para 2024, que não é de escrita mas está relacionada, é a de fazer uma oficina de escrita com meus apoiamores da newsletter. VAI ROLAR. Estamos pensando em um formato bem horizontal, utilizando uma brincadeira que tenho com minhas amigas chamada Drink & Write. Basicamente, uma oficina de escrita sem lero lero, com definição de temas e TEMPO para escrever ali na hora, na raça, no couro. Estou muito animada, em breve vou lançar a consulta de datas para a gente marcar esse encontro virtual. Caso você ainda não seja assinante pago, ainda dá tempo de assinar aqui.
"No deserto da escrita de um livro, as novas ideias são sempre miragens que afastam a gente de terminar qualquer coisa" caiu como uma luva. Aliás, sou à favor das metáforas com moderação! Rs
Adorei suas resoluções, Fabi! E a confirmação de que teremos oficina 😍
No hype de você escrever uma história de ficção científica