Aos vinte e poucos anos, eu achava que existiam dois tipos de pessoas na vida: as que esperam e as que fazem. É lógico que me via no segundo grupo. Nada nunca caiu pronto no meu colo, era a minha justificativa. Tudo que tive precisei ir buscar. Meu espírito de lutadora foi obrigado a se aquietar à força quando conheceu o tempo, um senhor incontrolável que escolhe por onde passar e não se dobra a menininhas esforçadas. Para minha infelicidade, descobri que não havia atalhos para onde queria ir (pelo menos, não para mim). A pessoa mais ansiosa do mundo escolheu escrever e a escrita, como é sabido, detesta a pressa.
Uma das principais dicas que dou a escritores iniciantes é que tenham paciência, porque o ritmo de uma carreira literária avança a passos de lesma. É uma dica terrível, ainda que útil. Um conselho que não consola, não ajuda. Imagine pedir paciência para quem escreve as próprias angústias. Não se revelar é quase um martírio. Todo mundo quer ver o próprio nome na capa de um livro, ter a oportunidade de falar sobre ele e defender o território da própria imaginação. Mas a tristeza é que esse sonho não acontece rápido.
Escrever um livro não é rápido, demora anos. Até mesmo o desenvolvimento da própria escrita é um processo que leva tempo. Esse é um trabalho de formiguinha, um passinho por vez. Eu sei como a espera maltrata. Nada se compara àquela sensação de estar parado, congelado, à espera de um e-mail e uma ligação que pode não chegar nunca. I’ve been there.
Tenho a impressão de que as redes sociais agravaram o problema, distorceram a perspectiva das coisas. A literatura não é um vídeo de 15 segundos, fazer um livro é um processo muito mais longo, muito mais exaustivo. Vencer a primeira barreira, a da publicação, é só o começo da história. A maioria dos editores de grandes casas, por exemplo, trabalha com dezenas de autores ao mesmo tempo. Depois de contratado, um romance pode demorar de seis meses a um ano para ficar “pronto” e na fila da gráfica. Às vezes, muito mais do que isso.
Depois do lançamento, a espera continua. Quando o livro chega às prateleiras, é hora de trabalhar na divulgação, o que também é um processo exaustivo que nem sempre retorna os resultados imaginados. Só porque você escreveu um livro, não significa que terá leitores ou que vão te reconhecer. É preciso bater na porta, vestir a carapuça de classificados, gritar aos quatro ventos, usando aquela mesma paciência que, com sorte, já estará calejada. Muitas coisas dependem da gente, mas a maior parte delas – como tudo na vida – está além de qualquer controle.
Na última semana, li uma reportagem muito interessante no New York Times sobre a escritora Ann Napolitano que, depois de amargar o ostracismo por anos, escreveu um best-seller (“Dear Edward”) e acabou de ter seu quarto romance, “Hello Beautiful”, escolhi para o clube do livro da Oprah Winfrey, o clube do livro mais famoso e influente do mundo. Gosto da maneira como Ann Napolitano confessa que demorou a “cair a ficha” do próprio sucesso. Depois de enfrentar uma depressão severa com as inúmeras rejeições que recebeu, suas expectativas eram mínimas. A glória a buscou dentro do buraco.
No último fim de semana, também gostei de ver o retorno triunfante e a devida celebração de três artistas que tiveram seu “tempo” amputado, que acharam que o sonho estava esgotado de vez: os ganhadores do Oscar Brendan Fraser, Michelle Yeoh e Ke Huy Quan. É lindo ver esse momento, mas a pergunta que fica é outra. Por que eles não desistiram? Ou melhor: como eles não desistiram?
Para quem é artista mesmo, artista de verdade, desistir não é opção. Se o problema é interno, você vai continuar fazendo aquilo até morrer. É uma espécie de maldição.
Perseverar é também a única chance de vingar. Nem todo mundo vai ter um lugar de destaque, um lugar ao sol, e nem sempre os destaques fazem jus à qualidade. A hora e a oportunidade dependem de uma quantidade imensa de fatores que escapam ao nosso domínio. Não há muitas soluções, mas conheço alguns paliativos.
Se eu pudesse voltar no tempo e dizer algo que consolasse a mim mesma, eu diria continue escrevendo enquanto espera (que foi, mais ou menos, o que eu fiz). Melhore. A roda da fortuna gira, os assuntos mudam, e todos os livros encontram sua hora, desde que o escritor esteja preparado. Porque isso é algo a se levar em conta – nem sempre pronto significa preparado. O texto de quem tem domínio da própria literatura salta aos olhos dos profissionais do mercado e dos leitores. Quem passou aquele tempo no purgatório se preparando encontra mais chances de vencer as impossibilidades. A única forma de dominar o próprio estilo é escrevendo.
Escrever faz a gente esquecer que existem barreiras. É importante não apostar suas fichas em um único livro, um único manuscrito, acho uma lástima quando vejo alguém melindroso pela primeira carta de rejeição, de um primeiro trabalho. Se é isso que te comove, continue fazendo. Escreva livros e livros e livros. Para cada trabalho rejeitado, faça outro melhor. Escreva contos. Crie uma newsletter. Além de amadurecer e evoluir, todo o material produzido durante a espera poderá ser aproveitado mais tarde, quando sua hora chegar. Se escrever é a sua maldição, a hora chega. Mas, se você está nessa pelos likes, recomendo mesmo desistir.
A newsletter que espero ansiosamente sempre!
Obrigado