Poucas coisas me deixam mais irritada do que alguém que escreve e acha que não precisa de edição. Chego a revirar os olhos com força para dentro da nuca. Na minha perspectiva, o “monstro” da edição jamais deveria ser temido. Pelo contrário. É uma espécie de alívio saber que as histórias nunca chegam embaladas e prontas. Não conheço um só alecrim dourado que faça partos graciosos de primeira. O que vem depois da escrita é matéria de carpintaria. Acima de tudo, o editor ou editora é um leitor profissional que entende de corte e emenda. A palavra deles, embora não seja sempre mandatória, é um recurso valioso.
Tenho uma excelente relação com a minha editora na Alfaguara, Luara França. A opinião dela é sempre muito certeira e objetiva. Costumo brincar que nós duas somos basicamente almas gêmeas literárias: além da mulher ter editado alguns dos meus livros favoritos na vida, temos também as mesmas opiniões sobre uma grande variedade de tópicos literários. Eu confio nessa pessoa, que respeito e admiro, porque sei que ela vai elevar o meu trabalho, sem modificar quem eu sou.
Escrever um livro é mais difícil do que parece. Os romances podem levar anos para serem cuspidos – e a palavra é essa, porque primeiro a gente desengasga. O processo de edição, o pós-escrita, pode demorar meses. Ano que vem, por exemplo, publicarei meu novo romance, “Como se fosse um monstro”, uma história que comecei a escrever em 2018. Até chegar na versão que estará nas livrarias – a melhor versão possível – foram muitas idas e vindas. A partir de uma observação da Luara, inclusive, refiz metade do livro. Sim, joguei quase todo o material fora e comecei do zero. Não preciso nem dizer que o resultado ficou trinta vezes superior.
Um bom editor tira o melhor de você.
É claro que, nesse processo, o autor guarda o direito da própria voz. Nenhuma mudança é feita sem que a gente concorde. Tudo é bem discutido, pesado e revisto. O processo de edição aborda aspectos da trama e dos personagens, sem se deter nas minúcias ortográficas que, mais tarde, serão corrigidas pelo preparador e revisor. Quando publiquei meu primeiro livro, fiquei encantada com essa parte. Até então, meu texto nunca tinha sido lido com tanta atenção.
Mais do que procurar uma casa editorial, sempre recomendo que as pessoas procurem editores. Mesmo aquelas que pretendem publicar de forma independente, recomendo que contratem ajuda de um profissional do mercado literário. Por onde começar? Em primeiro lugar, liste uma série de livros contemporâneos nacionais que você gosta, procure saber quem editou. Tente se aproximar dessa pessoa, segui-las nas redes sociais (a maior parte dos editores é bem ativa). Claro, nenhum profissional gosta de ser assediado e receber, na caixa de entrada ou em casa, um original que não foi solicitado. É importante ter bom senso. Ao mesmo tempo, essas figuras estão sempre à procura de vozes originais, e prestam bastante atenção em quem se destaca sem ser invasivo. Faça seu corre, mas nunca perca de vista quem está na outra ponta. Respeite o processo, começando por quem pode te ajudar.
Há algo de muito reconfortante em saber que o caminho não é tão solitário assim, embora às vezes pareça. O medo de escrever algo muito ruim assombra 99% das pessoas escritoras, mas poucas delas pensam que uma primeira versão ruim já é melhor do que nada. E que a maior parte dos artistas, inclusive os supostos gênios, passaram pelo processo de aparar suas arestas.
Sobre esse assunto, recomendo muitíssimo esse texto da Maria Emilia Bender, editora da Elvira Vigna, escrito na ocasião do falecimento da escritora. É lindo e verdadeiro.
Perfeito! Adoro editar. E contar com pessoas sábias para melhorar o processo é mágico. Legal saber que vem livro novo aí ✨
Tem gente que chega no mercado literário achando que edição profissional é tipo elogio de mãe, né? Mas nada como um choque de realidade para amadurecer :)