Tenho andado bastante cansada, com a energia baixa, o que pode ter a ver com o fato de estar trabalhando muito, e também de não estar escrevendo. Entreguei o livro novo há alguns meses, entreguei um conto que estava devendo e, desde então, não escrevo mais nada. Quando não escrevo, sinto uma grande ausência, tudo fica um pouco mais triste. Às vezes fico com medo de desaprender. Como se essa coisa, que é a única que eu sei fazer, pudesse sair de mim por falta de prática.
A verdade é que minha rotina é exaustiva. Estou fazendo essa newsletter de coração aberto, com muita sinceridade, porque parte do meu cansaço vem dessa necessidade de equilibrar tantos papéis – e olha que eu nem tenho filhos (ainda). Divulgar meu trabalho como escritora exige de mim um esforço tremendo, porque é algo que eu não sei fazer totalmente. Nunca soube como lidar com a atenção. Nunca soube vender o meu trabalho direito. A sensação que fica é que não faço o suficiente.
Na semana passada, participei da minha primeira bienal como autora, aqui em Brasília. Foi um momento muito maravilhoso, ver de perto tantos leitores queridos, falar um pouco com as pessoas. Ao mesmo tempo, foi o momento de perceber que eu sou uma péssima assessora de mim mesma. Uns dois dias antes da minha mesa, compareci à bienal para assistir à mesa do escritor Pedro Mairal, que aprendi a admirar pelo ótimo Salvatierra. Ao me ver ali, uma livreira muito querida perguntou se eu tinha levado um exemplar do meu livro, Apague a luz se for chorar, para trocar com o Mairal. Eu não só não tinha levado, como sequer tinha pensado nisso.
“Vocês, escritoras...”, a amiga livreira riu. “Não sabem se promover.”
É verdade. Nunca pensei que essa parte fosse ser tão difícil.
A verdade é que estou em uma condição privilegiada. Meu livro, embora chegue devagar, tem chegado nas pessoas graças à ótima distribuição da Alfaguara. Mas não sou uma pessoa naturalmente esperta e loquaz, embora me esforce. Eu não sei como fazer isso de divulgar e dizer que estou aqui, e ter que gritar três vezes, ter que gritar mais alto para vencer as distâncias. Eu queria poder só escrever.
Também tenho saudades de um espaço literário que seja mais do que batalhar por uma chance. Queria falar sobre escrita, sem ter que pensar no resto. Às vezes me incomoda muito que sempre me questionem sobre como publicar um livro, sobre a importância de uma narrativa ou outra, mas raramente querem saber sobre o meio do caminho. O que você está escrevendo agora? – é o que pergunto para todo mundo que vem me pedir dicas. Quase nunca recebo respostas.
Eu gosto de saber do que as pessoas pretendem produzir. Eu não quero saber se você está escrevendo uma história “sobre a natureza humana”, que uma ou outra editora vai gostar por ser muito atual. Eu quero ouvir sobre a sua história sobre o apocalipse zumbi. Quero saber daquela sua personagem que é viciada em roubar esmaltes e por isso pareceu tão interessante. Ou sobre aquele conto que começa com um raio caindo na cidade, mesmo que isso seja tudo que você saiba agora. Talvez esse medo de não conseguir levar a cabo uma empreitada tão grande e importante quanto um livro seja justamente a falta de compreensão do processo. É só um livro. Talvez você goste dele. Talvez não. Talvez você nem queira publicá-lo. Só tem um jeito de saber.
Estou exausta dessa imensa corrida que os autores pensam estar correndo. Dessa ânsia por ser reconhecido para poder se reconhecer. Por estar presente, ganhar prêmios, conquistar uma vaga na editora legal ou fazer um trabalho perfeito e livre de críticas. No fundo, nada da atenção conquistada vai se sustentar sem as palavras armadas e dispostas na página. Quer um conselho? Não deixe que a ânsia por publicar te impeça de escrever. Ou que a falta do sucesso te esmoreça. O sucesso, nessa área, é bastante relativo.
Criar é mais importante. Anota aí.
A imaginação é o recurso mais importante de qualquer escritor e escritora, e às vezes queria que as pessoas se preocupassem primeiro em cultivar e trabalhar suas ideias antes de qualquer coisa. Inclusive, tenho amadurecido a ideia de criar uma oficina, não um lugar vertical em que eu falo e alguém escuta. Uma oficina para que todo mundo escreva. Do lado de cá, estou realmente bastante cansada de fazer os meus corres (e olha que tem livro novo chegando logo mais). Estou cansada de ter que explicar que não existe literatura feminina. Que mulher escreve como qualquer ser humano. E que eu escrevo a partir de tudo que sou, embora seja tudo inventado. Mas que bom, que bom mesmo, que a minha imaginação é guerreira. Sem ela, eu não iria muito longe.
As oficinas de escrita criativa foram mto boas para mim. Eu realmente só comecei a escrever e melhorar qdo passei a ler e ser lido por pessoas interessadas na literatura em si, no texto apresentado ali na hora, para ser dissecado, degustado, repelido ou admirado. Perdi a pressa em publicar. Mas não a urgência de escrever. Eu apoio totalmente uma oficina com sua proposta, Fabi. Torço para q dê td certo e suas turmas comecem logo!
É só canseira do momento, você vai ficar bem. De repente precisar parar um pouco recalibrar as ideias, faz parte. Não deixa de se nutrir de coisas boas.