Até o começo desse ano, eu nunca tinha ministrado uma oficina de escrita. Ficava até com receio, por nunca ter frequentado uma. Então fui aceitando convites, criando confiança, e quando vi já foram umas quatro. No meu exercício prático favorito, gosto de pedir que as pessoas escrevam sobre temas aleatórios com um tempo cronometrado. É muito interessante ver como escritores reagem sob pressão, que tipo de assunto abordam, para quais lugares vão, e qual é a voz narrativa que escolhem. Isso diz muito sobre sua identidade literária. O problema que aparece ao seguir escrevendo, contudo, já é outro: é que, de tanto ser a gente, caímos no risco da repetição.
Vários autores parecem escrever sempre o mesmo livro. Não há nada de errado com isso. Alice Munro, por exemplo, é minha contista favorita da vida, mas admito que as histórias dela são bem parecidas entre si. O Paul Auster também é, para mim, esse autor que parece escrever sempre a mesma coisa, assim como o Philip Roth (de quem, confesso, tenho um pouco de preguiça). Essa impressão de estar lendo “a mesma coisa” pode surgir pela afinidade do autor ou autora com algum tema, com um mesmo tipo de personagem ou mesmo um lugar. Se por um lado isso diz muito sobre o projeto literário de alguém, também reforça que no fundo estamos sempre querendo passar a mesma mensagem. Descobrir qual mensagem é essa que é a parte difícil.
É importante tentar abandonar a zona de conforto, na minha humilde opinião. Tentar não se repetir demais. Pode até ser que você tenha encontrado uma fórmula, que essa fórmula dê certo, mas eu gosto de pensar a escrita como um exercício de várias possibilidades, e fica chato se a gente sempre fizer a mesma coisa, ainda que inconscientemente. Ao longo de todos os meus anos escrevendo ficção, descobri, por exemplo, que tenho uma queda gigantesca por escrever velhinhas solitárias em lugares abandonados. É meu personagem favorito (pelo menos para contos). Em setembro sai uma antologia da qual participei, e fiquei bastante preocupada quando percebi que o meu conto é protagonizado mais uma vez por uma velhinha solitária. Decidi que não escrevo mais velhas. Ao menos por enquanto.
Também tenho quedas por plot twists que às vezes nem são tão twists assim (quem leu meus dois livros sabe), por prostitutas e gente amargurada. Alguns aspectos dessas preferências jamais deixarão meus trabalhos. Eu amo escrever sobre solidão, pessoas à margem, pessoas com pensamentos controversos, adoro dar humanidade aos meus personagens. Mas preciso evitar me repetir, sob o risco de virar um papagaio com gosto pela melancolia.
Sobre o livro novo
Estou quase acabando meu livro novo e acho que consegui sair da minha zona de conforto, pelo menos um pouco.
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