#4 Conversas de estimação: Anna Luiza Cardoso, agente literária
Sobre agenciamento
Anna Luiza Cardoso, que integra a excelente LVB&Co, é a minha agente literária. Já falei um pouco sobre como funciona o modelo de agenciamento literário no Brasil aqui e recomendo a leitura caso queira saber um pouco mais sobre o processo. Eu adoro trabalhar com a Anna, que é uma profissional muito sensível e experiente nesse mercado. Juntas, conseguimos boas vitórias, como a venda dos direitos dos meus livros para o cinema. Ela gentilmente aceitou responder umas perguntas que podem ajudar muito quem tem interesse em seguir uma carreira de escritor ou escritora. Enjoy!
Anna, de certa forma, ter um agente literário é tão cobiçado por escritores quanto ter um editor. O que, para você, chama a atenção na hora de selecionar novos escritores para serem agenciados?
A voz narrativa é o que mais me chama a atenção de modo geral, pois é a forma como o autor ou autora dá voz ao que tem a dizer. Muita gente tem muito a dizer, mas nem todo mundo sabe como fazer isso, e muitas vezes, mesmo que saiba, não necessariamente termina em literatura. Para mim, o mais importante num primeiro momento é sentir que a pessoa encontrou a forma de contar a história que pretende. Obviamente, tem que ser uma boa história, não no sentido de ser uma história em que acontecem muitas coisas, mas uma que por razões diversas desperte algum interesse. Acho que muita gente tem aquela ideia de “minha avó teve uma vida incrível que daria um livro”. Vidas incríveis não necessariamente dão bons livros e bons livros, em sua maioria, não são sobre vidas ou histórias incríveis, não são nem sobre nada que se possa definir. O [Mohamed Mbougar] Sarr faz um comentário sobre isso em seu espetacular A Mais Recôndita Memória dos Homens: segundo ele, um grande livro não fala sobre nada, especificamente, ao mesmo tempo em que fala sobre tudo. Não se trata da história específica que está sendo contada, mas da forma que o escritor encontrou para contar essa história. Esse é o grande divisor de águas.
Certamente, há outros fatores além da voz narrativa, como questões mercadológicas, potencial comercial da obra e do autor, possibilidades de venda para o exterior e/ou para audiovisual. O trabalho de agenciamento só faz sentido se pensarmos na obra literária como um todo, não se sustenta com livros isolados que não tenham um leque amplo de possibilidades de trabalho. A possibilidade de monetarização daquela obra, portanto, há de contar na avaliação. Mas isso é uma etapa posterior, que só se dará depois de a voz narrativa ter despertado meu interesse inicial.
E o que é um erro absoluto?