Eu também enveredei tarde pela literatura. Quando nasci, na minha família, ninguém gostava de ler. E a escola não contribuía para o mínimo de interesse. De forma que comecei a pegar em livro já adulta, depois dos 30. A escrita me achou ainda depois, 37 anos por aí. Acho que as comparações são inevitáveis, embora hoje isso não me limite mais. Eu estudo poesia para escrever melhor. Quando digo estudo, eu não falo da métrica e da rima ou das origens da poética e talz. Isso não. Eu leio outros poetas e estudo o estilo deles. Chego a reconhecer os detalhes de cada estilo. É isso que eu faço. E faço porque sou obcecada pela poesia. Acho que isso e o compromisso com o processo tornam qualquer escrita melhor. Escrever melhor é um músculo. Obrigada pela edição!
Eu até comecei a ler cedo, mas não tive qualquer instrução a esse respeito, sabe? Só fui ler os clássicos muito mais velha, até hoje não me dou bem com muitos. É foda, às vezes o complexo bate, quando medimos com a regra intelectual dos outros. Eu vejo verdade nos seus poemas
Complexo de inferioridade, necessidade de validação externa, dificuldade de assumir a sua escrita? Eu devia fazer um daqueles adesivos de para-choque “pergunte-me como”. Só comecei a me assumir neste ano que passei em Bali, depois de começar a frequentar um clube de escritores e ver quanta gente sofre os mesmos receios. E olha que eu já tinha um livro publicado e premiado. Mas a síndrome de vira-lata é foda. Impedia-me de escrever mais por medo do julgamento externo. Da coragem de assumir o desejo e reconhecer as fragilidades nasceu a candidatura ao mestrado em escrita criativa, a próxima nova etapa da minha vida, aos 54 anos de idade.
Isso aqui me deu um tapa e um abraço forte: "Eu que cresci ouvindo Leandro e Leonardo, eu que não faço parte das mulheres que correm com Clarice Lispector".
por que a gente sempre acha que a grama do vizinho é mais verde, né? há tantos tons de verde por aí… e porque um escreve bem não significa que ninguém mais possa. além disso, o texto só se completa no leitor. e o que toca um nem sempre é o mesmo que toca outro, assim como há momentos da vida em que uma coisa que antes nos tocava passa a não tocar mais. e vice-versa. uma das poucas certezas que tenho é de que a prática é fundamental: quanto mais treinamos a escrita, melhor escrevemos. e, sim, você já escreve bem pra caramba! 😊
Você comentando sobre seu mapa, a presença marcante do seu leão, me identifico. Recentemente enviei meu primeiro livro de poemas para um concurso, muito como uma necessidade de validação (sombra de leão)mesmo, por ainda não conseguir me assumir poeta / escritora. Será que estou esperando alguma classificação que me valide? Sou ariana, arquétipo da coragem, da impetuosidade, etc. Mas tenho lua em leao que me f…. Kkkkk na casa mais reclusa do mapa (a 12). Tenho aprendido (difícil) que a validação que realmente preciso é do invisível : primeiro ouvir as vozes de validação que só eu escuto. As que vierem depois, serão consequência de ter ouvido as primeiras. Se o coração bate num sim gritante, tá validado. Se enxergo a autenticidade do que escrevo, tá validado (tratando dos primeiros passos do processo, claro, sem romantizar rsrsrs). Leão rege o coração e a visão. Astrologia é um repertório, uma linguagem que me acompanha quando escrevo. Tb sou astróloga e professora de idiomas - e poeta /escritora ??? rs.
Continue escrevendo aqui e onde quer que seja , pra que seu sol leonino ilumine o coletivo (aquário) mulherio e todas possamos ir nos autovalidando. Beijo e muito obrigada pelo texto. E desculpas pelo meu textão rsrs
Isso de se assumir é uma construção diária, é como sair do armário. Tire a vergonha e só vai, as coisas precisam disso para acontecer internamente e externamente
Pausa na leitura pra comentar: que sorte você ter tido um professor que elogiava os alunos. Até hoje converso sobre isso com minhas amigas de faculdade e comentamos como o jeito de detonar os alunos minou nossa autoestima. Tinha uns que adoravam fazer os alunos chorarem, e o máximo que ouvíamos de elogio era "tá bom, agora descansa".
Eu me sinto incapaz de segurar a escrita de um romance... Talvez nunca seja boa em escrever, mas seguro com afinco na minha teimosia em tentar. :)
Compartilho da formação "tardia" em clássicos, mesmo tendo sido uma leitora constante desde a infância. Fui lendo o que encontrava e só bem adulta organizei de buscar as influências dos grandes. Acredito que faça sim diferença na escrita de quem cresceu entre "os grandes", mas tento não fazer juízo de melhor ou pior... O que já passou não tem remédio, o que consigo fazer é continuar lendo & escrevendo. beijo.
Eu tbm me achava incapaz de um romance. Daí peguei oito trechos dos meus diários e entralaçei e quando vi, era um romance. Aposte. A literatura não tem regras, pode-se tudo.
"A minha formação literária veio um pouco atrasada, ligeiramente torta, e por isso ainda sofro." Curioso ler isso, posto que a gente não tem tanta escolha assim quanto à nossa formação enquanto pessoas leitoras. O estímulo em casa, o espaço com livros e uma presença de pessoas afeitas à leitura ao redor tende a ser crucial. Dito isso, eu só comecei a me aceitar como escritor na primeira vez que pagaram algo pela minha escrita. O capitalismo faz isso com a gente, de achar que só o que gera dinheiro tem valor.
Hoje me pego pensando em como demorei para me aceitar como pessoa escritora e em como me dói assinar as coisas, porque é difícil reconhecer que o texto bom vem de mim. Obrigado por compartilhar suas reflexões. Seus livros estão indo pra minha lista de leituras.
Eu me sinto assim! E me cobro. Mas tenho coragem de ver meus limites e vontade de aprender. E olhe que como jornalista fiz da escrita e das perguntas o meio de sobreviver decentemente.
“Há complexidades que não vou alcançar nunca, se esperarem isso de mim, é bom que não esperem, porque o meu fluxo de consciência é bem lisinho.”
Eu comecei a aceitar isso sobre a minha escrita também. Apesar de ter crescido com os clássicos e amá-los, minha escrita é muito urbana, um pouco seca e zero rarefeita. Claro, quero continuar melhorando e progredindo, mas não vou tentar ser alguém que não sou ou emular uma voz que não é minha.
Uma coisa que nunca me esqueço é quando minha prof de escrita disse que era para que eu me considerasse uma escritora. Eu meio que "declinei", e ela me disse que eu não era a primeira aluna mulher a fazer isso, mas que os homens dos quais ela deu aula pegam o título sem nenhuma dificuldade ou resistência. E isso acaba indo em outros aspectos: não sei criar poemas, não li Clarice e Woolf eu não consigo finalizar. Não tem nem artistas, nem escritores, nem leitores na minha família, não cresci cercada de livros que não fossem os meus. Meio que fico 'como isso veio parar aqui? como eu continuo tudo isso que eu quero ser, mostrar?". Aos 40. Não acredito que estou atrasada, mas... seria muito legal se tivesse começado antes.
Isso é MUITO verdade, sabe. Quando abro para receber leituras críticas, para cada cinco pessoas que me procuram, quatro são homens. Não acho que seja porque as mulheres escrevem menos, é que elas acreditam (o mundo faz com que acreditem) que não são boas o bastante para tentar
quando eu era pequena, meu irmao mais velho me disse que eu era boa em escrever. eu adorei o elogio e, a partir dai, deixei de mostrar meus textos pros outros com medo de perder o titulo de "menina que escreve bem". olha so ate onde um elogio que eu envolvi em preciosidade me levou... anos depois fui ler o livro "mindset" que explicava como alguns elogios podem congelar as pessoas mais perfeccionistas. hoje estou escrevendo minha tese e é claro o quanto repito certas estruturas, mas ja entendi que ta tudo bem. estamos sempre em construcao, somos eternos aprendizes :)
Ser boa em escrever é uma faca de dois gumes. Vivi disto (jornalismo) e, na ficção, sei construir um txt atraente. E ponto. Então reescrever é o difícil. Mil vezes. Mil e 500 vezes. Não se bastar com um txt claro. Já desconfio qdo a pessoa diz "muito bom". Na ficção pode-se tudo, ousar, destruir, então busco este "tudo". Muito exigente comigo mesma. :)
tenho pensado muito sobre isso. acho que tem “faixas” de escrever bem. eu até escrevo direitinho o tipo de coisa que escrevo aqui no substack. escrever ficção/literatura, bem, é muuuuito difícil
Eu sempre penso que não escrevo bem, mesmo quando me falam, teimo em discordar silenciosamente. Pois comecei tarde de mais a visualizar na escrita a forma dee conectar com o mundo.
Eu também enveredei tarde pela literatura. Quando nasci, na minha família, ninguém gostava de ler. E a escola não contribuía para o mínimo de interesse. De forma que comecei a pegar em livro já adulta, depois dos 30. A escrita me achou ainda depois, 37 anos por aí. Acho que as comparações são inevitáveis, embora hoje isso não me limite mais. Eu estudo poesia para escrever melhor. Quando digo estudo, eu não falo da métrica e da rima ou das origens da poética e talz. Isso não. Eu leio outros poetas e estudo o estilo deles. Chego a reconhecer os detalhes de cada estilo. É isso que eu faço. E faço porque sou obcecada pela poesia. Acho que isso e o compromisso com o processo tornam qualquer escrita melhor. Escrever melhor é um músculo. Obrigada pela edição!
Eu até comecei a ler cedo, mas não tive qualquer instrução a esse respeito, sabe? Só fui ler os clássicos muito mais velha, até hoje não me dou bem com muitos. É foda, às vezes o complexo bate, quando medimos com a regra intelectual dos outros. Eu vejo verdade nos seus poemas
Todos os dias enfrentar o desafio de não se submeter. Engraçado que nunca falei sobre isso… rsrs Obrigada pela oportunidade. E sigamos, Fabiane.
Complexo de inferioridade, necessidade de validação externa, dificuldade de assumir a sua escrita? Eu devia fazer um daqueles adesivos de para-choque “pergunte-me como”. Só comecei a me assumir neste ano que passei em Bali, depois de começar a frequentar um clube de escritores e ver quanta gente sofre os mesmos receios. E olha que eu já tinha um livro publicado e premiado. Mas a síndrome de vira-lata é foda. Impedia-me de escrever mais por medo do julgamento externo. Da coragem de assumir o desejo e reconhecer as fragilidades nasceu a candidatura ao mestrado em escrita criativa, a próxima nova etapa da minha vida, aos 54 anos de idade.
Isso aqui me deu um tapa e um abraço forte: "Eu que cresci ouvindo Leandro e Leonardo, eu que não faço parte das mulheres que correm com Clarice Lispector".
por que a gente sempre acha que a grama do vizinho é mais verde, né? há tantos tons de verde por aí… e porque um escreve bem não significa que ninguém mais possa. além disso, o texto só se completa no leitor. e o que toca um nem sempre é o mesmo que toca outro, assim como há momentos da vida em que uma coisa que antes nos tocava passa a não tocar mais. e vice-versa. uma das poucas certezas que tenho é de que a prática é fundamental: quanto mais treinamos a escrita, melhor escrevemos. e, sim, você já escreve bem pra caramba! 😊
Você comentando sobre seu mapa, a presença marcante do seu leão, me identifico. Recentemente enviei meu primeiro livro de poemas para um concurso, muito como uma necessidade de validação (sombra de leão)mesmo, por ainda não conseguir me assumir poeta / escritora. Será que estou esperando alguma classificação que me valide? Sou ariana, arquétipo da coragem, da impetuosidade, etc. Mas tenho lua em leao que me f…. Kkkkk na casa mais reclusa do mapa (a 12). Tenho aprendido (difícil) que a validação que realmente preciso é do invisível : primeiro ouvir as vozes de validação que só eu escuto. As que vierem depois, serão consequência de ter ouvido as primeiras. Se o coração bate num sim gritante, tá validado. Se enxergo a autenticidade do que escrevo, tá validado (tratando dos primeiros passos do processo, claro, sem romantizar rsrsrs). Leão rege o coração e a visão. Astrologia é um repertório, uma linguagem que me acompanha quando escrevo. Tb sou astróloga e professora de idiomas - e poeta /escritora ??? rs.
Continue escrevendo aqui e onde quer que seja , pra que seu sol leonino ilumine o coletivo (aquário) mulherio e todas possamos ir nos autovalidando. Beijo e muito obrigada pelo texto. E desculpas pelo meu textão rsrs
Isso de se assumir é uma construção diária, é como sair do armário. Tire a vergonha e só vai, as coisas precisam disso para acontecer internamente e externamente
Pausa na leitura pra comentar: que sorte você ter tido um professor que elogiava os alunos. Até hoje converso sobre isso com minhas amigas de faculdade e comentamos como o jeito de detonar os alunos minou nossa autoestima. Tinha uns que adoravam fazer os alunos chorarem, e o máximo que ouvíamos de elogio era "tá bom, agora descansa".
Ele não era do tipo que elogiava não, por isso fiquei tão lisonjeada hehe
Quando li o texto, pensei nos mesmos professores que você
Eu me sinto incapaz de segurar a escrita de um romance... Talvez nunca seja boa em escrever, mas seguro com afinco na minha teimosia em tentar. :)
Compartilho da formação "tardia" em clássicos, mesmo tendo sido uma leitora constante desde a infância. Fui lendo o que encontrava e só bem adulta organizei de buscar as influências dos grandes. Acredito que faça sim diferença na escrita de quem cresceu entre "os grandes", mas tento não fazer juízo de melhor ou pior... O que já passou não tem remédio, o que consigo fazer é continuar lendo & escrevendo. beijo.
Eu tbm me achava incapaz de um romance. Daí peguei oito trechos dos meus diários e entralaçei e quando vi, era um romance. Aposte. A literatura não tem regras, pode-se tudo.
Você é mais do que capaz, Paula!
"A minha formação literária veio um pouco atrasada, ligeiramente torta, e por isso ainda sofro." Curioso ler isso, posto que a gente não tem tanta escolha assim quanto à nossa formação enquanto pessoas leitoras. O estímulo em casa, o espaço com livros e uma presença de pessoas afeitas à leitura ao redor tende a ser crucial. Dito isso, eu só comecei a me aceitar como escritor na primeira vez que pagaram algo pela minha escrita. O capitalismo faz isso com a gente, de achar que só o que gera dinheiro tem valor.
Hoje me pego pensando em como demorei para me aceitar como pessoa escritora e em como me dói assinar as coisas, porque é difícil reconhecer que o texto bom vem de mim. Obrigado por compartilhar suas reflexões. Seus livros estão indo pra minha lista de leituras.
Obrigada, João, fico feliz com isso!
Eu me sinto assim! E me cobro. Mas tenho coragem de ver meus limites e vontade de aprender. E olhe que como jornalista fiz da escrita e das perguntas o meio de sobreviver decentemente.
A cobrança já virou regra por aqui. Eu sou minha própria agiota kkk
“Há complexidades que não vou alcançar nunca, se esperarem isso de mim, é bom que não esperem, porque o meu fluxo de consciência é bem lisinho.”
Eu comecei a aceitar isso sobre a minha escrita também. Apesar de ter crescido com os clássicos e amá-los, minha escrita é muito urbana, um pouco seca e zero rarefeita. Claro, quero continuar melhorando e progredindo, mas não vou tentar ser alguém que não sou ou emular uma voz que não é minha.
E tá tudo bem, viu? Dá para fazer algo bem legal e elegante seguindo essa linha
Uma coisa que nunca me esqueço é quando minha prof de escrita disse que era para que eu me considerasse uma escritora. Eu meio que "declinei", e ela me disse que eu não era a primeira aluna mulher a fazer isso, mas que os homens dos quais ela deu aula pegam o título sem nenhuma dificuldade ou resistência. E isso acaba indo em outros aspectos: não sei criar poemas, não li Clarice e Woolf eu não consigo finalizar. Não tem nem artistas, nem escritores, nem leitores na minha família, não cresci cercada de livros que não fossem os meus. Meio que fico 'como isso veio parar aqui? como eu continuo tudo isso que eu quero ser, mostrar?". Aos 40. Não acredito que estou atrasada, mas... seria muito legal se tivesse começado antes.
ps.: teu texto veio num momento MUITO necessário!
Isso é MUITO verdade, sabe. Quando abro para receber leituras críticas, para cada cinco pessoas que me procuram, quatro são homens. Não acho que seja porque as mulheres escrevem menos, é que elas acreditam (o mundo faz com que acreditem) que não são boas o bastante para tentar
quando eu era pequena, meu irmao mais velho me disse que eu era boa em escrever. eu adorei o elogio e, a partir dai, deixei de mostrar meus textos pros outros com medo de perder o titulo de "menina que escreve bem". olha so ate onde um elogio que eu envolvi em preciosidade me levou... anos depois fui ler o livro "mindset" que explicava como alguns elogios podem congelar as pessoas mais perfeccionistas. hoje estou escrevendo minha tese e é claro o quanto repito certas estruturas, mas ja entendi que ta tudo bem. estamos sempre em construcao, somos eternos aprendizes :)
Ser boa em escrever é uma faca de dois gumes. Vivi disto (jornalismo) e, na ficção, sei construir um txt atraente. E ponto. Então reescrever é o difícil. Mil vezes. Mil e 500 vezes. Não se bastar com um txt claro. Já desconfio qdo a pessoa diz "muito bom". Na ficção pode-se tudo, ousar, destruir, então busco este "tudo". Muito exigente comigo mesma. :)
A exigência leva ao melhor resultado possível. Desconfie de quem diz muito bom sempre
sigo aprendendo e me inspirando com seus textos
E eu me emocionando com seus comentários, obrigada!
tenho pensado muito sobre isso. acho que tem “faixas” de escrever bem. eu até escrevo direitinho o tipo de coisa que escrevo aqui no substack. escrever ficção/literatura, bem, é muuuuito difícil
É muito difícil mesmo! Mais do que as pessoas pensam. Por isso quanto mais cedo começar a praticar, melhor
Eu sempre penso que não escrevo bem, mesmo quando me falam, teimo em discordar silenciosamente. Pois comecei tarde de mais a visualizar na escrita a forma dee conectar com o mundo.
É só ir praticando até que você convença a si mesmo disso, Charles