Na época de bailarina, dando meus primeiros passos na casa dos vinte, a diretora da companhia onde eu dançava nos pedia para expressar com o movimento nossas maiores dores e criar a partir de feridas. Hoje percebo claramente o quanto isso me enchia de insegurança e insatisfação comigo mesma, porque, por mais que eu procurasse, não tinha feridas abertas das quais pudesse extrair algo.
A grande dor que eu carregava, o luto pela perda do meu pai, estava enterrada fundo demais, eu ainda não tinha maturidade para ser acessa-lá.
Confesso que criei certa resistência a essa ideia de criar a partir do sofrimento, de ficar cutucando a ferida até ela purgar. Sei lá. Existem outros horizontes para onde podemos olhar, outras águas onde a criatividade pode se banhar.
concordo muito com krenak quando ele diz que não quer aprender nada às custas de sofrimento. entendo que sofrer faz parte da vida (há situações inevitáveis que nos causam dor, como a morte de uma pessoa querida), mas não é por isso que devemos romantizar o sofrimento. acredito que tendemos a isso porque a experiência da dor costuma ser mais duradoura do que a da alegria: levamos mais tempo para nos recuperar de uma dor do que os instantes em que somos felizes. é fundamental entender, aceitar e processar o sofrimento, sem jamais fazer morada nele.
aproveitando o espaço... que cora venha em boa hora! =)
Que visão inspiradora de mundo você tem! Foi por isso (e por sua escrita cativante) que me inscrevi. Tinha o costume de apenas escrever em momentos de melancolia, mas estou buscando algo diferente. Quero ser agraciada com.a criatividade também em momentos doces. Concordo quando cita que "alguém que crê escrever bem quando está triste vai continuar procurando por isso". Até porque vira um vício e um antolho. Um impecilho na busca pela diversidade de emoções.
Fabiane, você traduziu em “pornografia da dor” o que ando pensando muito. Recentemente li “água fresca para flores” e achei que se enquadra exatamente nisso. Tragédia em sequência, excessivamente romantizadas
Não conhecia o livro, fui até conferir a sinopse aqui… mas parece que se encaixa bem. Uma coisa meio mórbido-romântica, parece fazer sucesso entre os leitores 🫠
Fabi, uma boa hora pra você. Do lado de cá do oceano, vou continuar te lendo, apoiando sua newsletter e indicando seu trabalho pra todo mundo. Beijos 💙
Nossa, me lembro do sofrimento ao assistir Meu pé de Laranja Lima quando criança (ainda antes de ler o livro na escola). Era tanto que eu queria que desligassem a Tv. Anos depois, chorei lendo o livro na escola.
Mas me marcou demais, anos depois, o quanto eu chorei lendo a passagem do Miguilim colocando óculos pela 1ª vez 🤍
Seu texto combina muito com o que escrevi sobre o livro da Rosa Montero. Adorei ler sua perspectiva sobre escrever sobre si, o que é diferente de escrever a partir de si. Que Cora venha com saúde e, porque amor já dá pra ver d longe que tem muito. Beijo
Menina, inclusive indiquei seu texto para algumas pessoas que comentaram ter se indignado com esse aspecto do livro (que eu não li... e nem vou ler, pelo visto rsrs). Obrigada pelos bons auspícios
Lembrei-me do livro Melhor não contar, de Tatiana Salem Levy. Tem um trecho em que ela escreve “ Às vezes sinto que é exatamente isto: chorar para escrever. Chorar, chorar, chorar, até precisar escrever.” mais pra frentee (…)quando acabo de escrever já não tenho vontade de chorar nem parece que chorei tanto, por que mesmo?“(…) “(…) quando sinto que estou indo longe demais na dor só para ter uma boa história, sou tomada por uma mulher mais velha, mais sábia e responsável, que me sussurra ao ouvido, Tanto, não.”
É isso. Minha crônica favorita, do Paulo Mendes Campos, diz o seguinte:
"Às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça."
O primeiro livro que me fez chorar foi Raissa, do Regis Castro. Eu devia ter uns 12 anos e o livro foi indicado pela professora e literatura. Recentemente, o livro mais brutal que li - a ponto de causar choque em lugar de lágrimas - foi Prophet Song, do Paul Lynch. Acho que não foi traduzido ainda para o português, mas deveria ser logo, porque é um livro absolutamente necessário para o momento que vivemos no mundo. Sobre escrever apenas em estado melancólico, eu não funciono assim, embora esteja atravessando um momento emocional delicado. Geralmente escrevo em qualquer humor, talvez melhor quando estou motivado e feliz.
Acho que as pérolas que podem sair de ostras felizes tem pouco alcance porque o brilho imantado nelas não encontra tanto reflexo assim na maioria de nós.
Ainda choro até hoje. Quando agente envelhece, chora menos. Eu ainda acredito em murakami quando ele diz que o escritor lida com o esgoto do mundo e que isso o consome. Eu realmente me sinto mais triste quando escrevo.
Teu texto me fez pensar no primeiro livro que me fez esgoelar de chorar, pelo menos é o primeiro que me lembro, que foi o Marley & Eu. Foi tanto o desespero que até hoje evito livros ou filmes com pets que morrem. Dor demais vira trauma e basta com os que a vida já nos dá.
Na época de bailarina, dando meus primeiros passos na casa dos vinte, a diretora da companhia onde eu dançava nos pedia para expressar com o movimento nossas maiores dores e criar a partir de feridas. Hoje percebo claramente o quanto isso me enchia de insegurança e insatisfação comigo mesma, porque, por mais que eu procurasse, não tinha feridas abertas das quais pudesse extrair algo.
A grande dor que eu carregava, o luto pela perda do meu pai, estava enterrada fundo demais, eu ainda não tinha maturidade para ser acessa-lá.
Confesso que criei certa resistência a essa ideia de criar a partir do sofrimento, de ficar cutucando a ferida até ela purgar. Sei lá. Existem outros horizontes para onde podemos olhar, outras águas onde a criatividade pode se banhar.
Sempre bom te ler, Fabi.
O povo do balé é meio perturbado da cabeça, né, Verbena? Já leu Esta valsa é minha, da Zelda Fitzgerald? Totalmente dodói.
Que bom que você conseguiu se privar desse hábito, a criatividade pode ser estimulada de inúmeras maneiras.
concordo muito com krenak quando ele diz que não quer aprender nada às custas de sofrimento. entendo que sofrer faz parte da vida (há situações inevitáveis que nos causam dor, como a morte de uma pessoa querida), mas não é por isso que devemos romantizar o sofrimento. acredito que tendemos a isso porque a experiência da dor costuma ser mais duradoura do que a da alegria: levamos mais tempo para nos recuperar de uma dor do que os instantes em que somos felizes. é fundamental entender, aceitar e processar o sofrimento, sem jamais fazer morada nele.
aproveitando o espaço... que cora venha em boa hora! =)
Obrigada, Pedro!!!
Que visão inspiradora de mundo você tem! Foi por isso (e por sua escrita cativante) que me inscrevi. Tinha o costume de apenas escrever em momentos de melancolia, mas estou buscando algo diferente. Quero ser agraciada com.a criatividade também em momentos doces. Concordo quando cita que "alguém que crê escrever bem quando está triste vai continuar procurando por isso". Até porque vira um vício e um antolho. Um impecilho na busca pela diversidade de emoções.
Excelente Newsletter. Fiquei preso do início ao fim. Obrigado!! 😅
Eu que agradeço a gentileza do comentário :)
Fabiane, você traduziu em “pornografia da dor” o que ando pensando muito. Recentemente li “água fresca para flores” e achei que se enquadra exatamente nisso. Tragédia em sequência, excessivamente romantizadas
Não conhecia o livro, fui até conferir a sinopse aqui… mas parece que se encaixa bem. Uma coisa meio mórbido-romântica, parece fazer sucesso entre os leitores 🫠
Fabi, uma boa hora pra você. Do lado de cá do oceano, vou continuar te lendo, apoiando sua newsletter e indicando seu trabalho pra todo mundo. Beijos 💙
Muito obrigada, Lu!!!
Nossa, me lembro do sofrimento ao assistir Meu pé de Laranja Lima quando criança (ainda antes de ler o livro na escola). Era tanto que eu queria que desligassem a Tv. Anos depois, chorei lendo o livro na escola.
Mas me marcou demais, anos depois, o quanto eu chorei lendo a passagem do Miguilim colocando óculos pela 1ª vez 🤍
Aiii, Fabi!! Vc é demais!!! Que sensibilidade e fortaleza nesse texto!! Emocionada novamente!!
Seu texto combina muito com o que escrevi sobre o livro da Rosa Montero. Adorei ler sua perspectiva sobre escrever sobre si, o que é diferente de escrever a partir de si. Que Cora venha com saúde e, porque amor já dá pra ver d longe que tem muito. Beijo
Menina, inclusive indiquei seu texto para algumas pessoas que comentaram ter se indignado com esse aspecto do livro (que eu não li... e nem vou ler, pelo visto rsrs). Obrigada pelos bons auspícios
Lembrei-me do livro Melhor não contar, de Tatiana Salem Levy. Tem um trecho em que ela escreve “ Às vezes sinto que é exatamente isto: chorar para escrever. Chorar, chorar, chorar, até precisar escrever.” mais pra frentee (…)quando acabo de escrever já não tenho vontade de chorar nem parece que chorei tanto, por que mesmo?“(…) “(…) quando sinto que estou indo longe demais na dor só para ter uma boa história, sou tomada por uma mulher mais velha, mais sábia e responsável, que me sussurra ao ouvido, Tanto, não.”
É isso. Minha crônica favorita, do Paulo Mendes Campos, diz o seguinte:
"Às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça."
(Era para ter incluído a crônica no texto)
O primeiro livro que me fez chorar foi Raissa, do Regis Castro. Eu devia ter uns 12 anos e o livro foi indicado pela professora e literatura. Recentemente, o livro mais brutal que li - a ponto de causar choque em lugar de lágrimas - foi Prophet Song, do Paul Lynch. Acho que não foi traduzido ainda para o português, mas deveria ser logo, porque é um livro absolutamente necessário para o momento que vivemos no mundo. Sobre escrever apenas em estado melancólico, eu não funciono assim, embora esteja atravessando um momento emocional delicado. Geralmente escrevo em qualquer humor, talvez melhor quando estou motivado e feliz.
A Todavia vai publicar esse no Brasil esse ano!!! Bom saber que você curtiu, já vou ficar de olho (de cara o tema não me atraiu muito...)
É um livro desesperador.
Acho que as pérolas que podem sair de ostras felizes tem pouco alcance porque o brilho imantado nelas não encontra tanto reflexo assim na maioria de nós.
Já chafurdar em lodaçais, nossa, estamos aí…
É porque a maioria das pessoas encontra mais ressonância na dor do que no resto... O que não diminui o brilho das histórias quentinhas, eu acho.
Ainda choro até hoje. Quando agente envelhece, chora menos. Eu ainda acredito em murakami quando ele diz que o escritor lida com o esgoto do mundo e que isso o consome. Eu realmente me sinto mais triste quando escrevo.
Pois é, é triste como vamos ficando mais cínicos, né? Extrair alegria da escrita também é possível, acredite em mim.
Eu já chorei copiosamente lendo "Patrimônio", do Roth, no ônibus.
Em público é dureza demais...
Foi meio vexaminoso mesmo.
Teu texto me fez pensar no primeiro livro que me fez esgoelar de chorar, pelo menos é o primeiro que me lembro, que foi o Marley & Eu. Foi tanto o desespero que até hoje evito livros ou filmes com pets que morrem. Dor demais vira trauma e basta com os que a vida já nos dá.
Isso é um dos grandes tabus dentro da literatura e um grande chavão também. Foi muito bom ler sobre isso.