Vinda do interior também entrei numa UF. Fiz a escolha do curso possível, dadas as minhas circunstâncias. Não só por isso, a faculdade foi a frustração de um sonho de Ensino Superior para quem,CDF, sempre colocou os estudos como prioridade de vida. Essa formação não foi importante, a não ser pelo diploma, para a minha profissão. Quanto à escrita, outro sonho abandonado, aprendi que ela se conecta ao público, antes de nascer. Entendo que, geralmente, intelectuais escritores escrevem para um nicho, pequeno se considerarmos o Brasil. Ok, como propósito, mas há tantos outros públicos, ávidos por boa literatura, nua de adornos intelectualizados.
É por isso que eu questiono esse lugar do escritor como um intelectual, obrigatoriamente. Na nossa história tivemos muitas pessoas que romperam, ou tentaram romper, com essa tradição, Carolina Maria de Jesus que o diga. O que não queremos é que essa percepção volte, ou permaneça
Outro dia eu li ou ouvi alguém falando sobre isso... Quando a gente diz que o pessoal de SP é privilegiado, estamos falando de SP capital, porque realmente no interior a galera é muito mais parecida com o resto de nós (os caipiras hahaha). Inclusive, sempre gostei mais dos "paulistas de dentro"
Me identifiquei muito com esse seu texto, tive uma vivência parecida na Unb por ter minhas limitações também. Mas até hoje me apoio no que sua tia, sabiamente, disse! Ela tem toda razão!
Seu texto é perfeito, Fabiane. Como você, penso que a formação acadêmica é importante se a pessoa tiver pretensões de lecionar na universidade. Só para escrever, vale mais a dedicação e a leitura do que o diploma acadêmico. Mesmo para ministrar oficinas livres, o que conta mais é a experiência de escrita. Quem procura esses cursos, eu penso, está mais em busca da prática do que dos três atos de A Poética de Aristóteles.
Desde pequena sou aficionada pela leitura. Sou caipira assim como você, mas não passei por necessidades e muito menos pela pobreza. Pai médico, mãe empresária, a luta ali era outra: me fazer ler menos e interagir mais. Lia durante as aulas, durante as noites, durante os finais de semana... sempre preferi a literatura de companhia. Sou péssima em gramática (mesmo formada em Letras) . Aproveitei SEMPRE, todas as bibliotecas disponíveis na vida para ler e já a algum tempo consigo bancar financeiramente minha própria leitura. Acredito que para escrever, antes de mais nada, é preciso ler, ler e ler. Segue uma poesia minha sobre o assunto:
Comigo aconteceu algo um pouco diferente: dentro da faculdade, descobri que eu gosto muito de estudar (eu jurava que isso não era pra mim), mesmo me achando uma burra 90% do tempo (acho que é parte da experiência universitária se sentir burro). Sou bacharel em Letras, não sei se foi uma sensação muito particular minha, ou outros letristas também sentiram isso, mas dentro do curso parece que não tem muito espaço para a pessoa escritora. Às vezes até ficava um pouco insegura de falar que sou escritora e levar um bombastic side eye, como que diz "você ACHA que é escritora, né?". O escritor parece uma entidade meio mitológica dentro do curso, distante de nós.
Ainda assim, assumi meu papel de escritora e minha experiência foi o que incentivou a minha pesquisa que agora levo para o mestrado. Durante a banca de avaliação do meu projeto para ingressar na pós, fui questionada como cheguei ao tema, contei toda a trajetória (que tem muito da minha orientadora também, que durante dois anos me ajudou a lapidar até o que temos hoje). A avaliadora me perguntou se o curso influenciava de alguma forma o meu trabalho com a escrita, e influência muito. Hoje que eu tenho acesso a isso, não tem como não influenciar.
Não acho que é preciso um curso para ser escritor, eu já lia e escrevia muito antes de sequer pensar em fazer o vestibular (e o que temos de exemplo de grandes escritores que nem mesmo são da área da humanas!!!), mas agradeço a Gabriela que decidiu se inscrever no último dia do vestibular, descobrimos algo muito legal depois disso.
Nossa, você resumiu perfeitamente o que eu sempre senti em relação ao curso de letras haha pelo menos na minha faculdade, era assim mesmo. Todo mundo que eu conheço que escrevia e entrou no curso meio que parou de escrever... criou um bloqueio. Fico feliz que com você tenha sido diferente! Não existe caminho único, essa é a verdade.
Só vim aqui dizer que sou mais uma nessa lista para corroborar a sua fala. Fui fazer letras querendo saber tudo e mais um pouco sobre produção textual, escrita. Não tive uma mísera aula sequer sobre o tema. Entrei em crise, quase abandonei o curso. Fiquei de mal com as letras por muitos anos. Me embreenhei na tradução achando que ia traduzir literatura. Nunca traduzi um livro (nunca nem prospectei editoras) e fugi de 2 testes que consegui por indicação. Sou especialista em tradução audiovisual. Agora, aos 42 anos, uma filha, muita autorreflexão e um pouco de terapia depois, eis-me aqui estudando escrita criativa, brigando com a newsletter e me jogando na empreitada de escrever o primeiro romance. E eu tenho pastas e pastas com textos meus de adolescente e um blog esquecido onde alguns poemas e textos brotaram após o meu divórcio do primeiro casamento. Eu tinha enterrado a escritora viva.
E o doido é que os professores sabem desse abandono da escrita dentro do curso! Alguns dos meus professores da poesia comentam em sala de aula que no primeiro ano eles encontram muitas pessoas que gostam de escrever (seja poesia ou narrativa), e quando encontram de novo esses mesmo alunos no último ano da graduação, a maioria não escreve mais. Sempre que tem algum evento dentro do campus voltado pra escrita/escritor (o que é raro), eu apareço. Tudo bem, a gente sabe que Letras não é apenas sobre/para escritores, mas eu acho muito triste um curso que tem a literatura na base curricular, matar a vontade de escrever.
E muito feliz que você voltou para a escrita criativa <3
Sou apaixonada pelo estudo, mas não consigo me sentir pronta ou mais adequada do que os outros. Parece que quanto mais aprendo, menos eu sei. Não é de todo ruim... Resolvi abraçar minha paixão pelos estudos como meu jeito de tentar escrever sobre o mundo, pq sem ele me sinto menos eu. Acredito que o primordial seja não largar as palavras, insistir na leitura e na escrita, até sair algo diferente. ✨
a melhor formação para um escritor é a formação como leitor. quanto mais abrangente for o leque de leituras, mais ferramentas o escritor terá à disposição na hora de escrever.
É muito mais uma questão de curva ao longo da graduação - disposição disciplinada para o aprendizado - do que de posição apenas - qual a bagagem acumulada quando se chegou lá.
Jesus Cristo (sou ateu), como o comentário acima soou meritocrático. Me corrigindo com a decência de reconhecer o ato falho ou invés de apenas apagar, restrinjo minha fala ao crescimento intelectual ao longo duma graduação dado mínimas condições para uma "disposição disciplinada" como um lugar sossegado e tempo.
Apesar de a minha trajetória ser um pouco diferente, também me sentia uma menina prodígio na escola e ao chegar na faculdade vi que não era bem assim rs mas amei a frase da sua tia, vou guardar comigo!
Vinda do interior também entrei numa UF. Fiz a escolha do curso possível, dadas as minhas circunstâncias. Não só por isso, a faculdade foi a frustração de um sonho de Ensino Superior para quem,CDF, sempre colocou os estudos como prioridade de vida. Essa formação não foi importante, a não ser pelo diploma, para a minha profissão. Quanto à escrita, outro sonho abandonado, aprendi que ela se conecta ao público, antes de nascer. Entendo que, geralmente, intelectuais escritores escrevem para um nicho, pequeno se considerarmos o Brasil. Ok, como propósito, mas há tantos outros públicos, ávidos por boa literatura, nua de adornos intelectualizados.
É por isso que eu questiono esse lugar do escritor como um intelectual, obrigatoriamente. Na nossa história tivemos muitas pessoas que romperam, ou tentaram romper, com essa tradição, Carolina Maria de Jesus que o diga. O que não queremos é que essa percepção volte, ou permaneça
Concordo com você: escrever se aprende pela leitura e na luta para amansar as palavras. Abr
E que baita luta essa... Que bom te ver por aqui, Marcos, querido.
Acompanho seu seus escritos por aí. Gosto muito! Abr
Eu sou do interior de São Paulo e, quando me mudei pra São Paulo para a faculdade, achei todo mundo TÃO mais inteligente e culto que eu…
Outro dia eu li ou ouvi alguém falando sobre isso... Quando a gente diz que o pessoal de SP é privilegiado, estamos falando de SP capital, porque realmente no interior a galera é muito mais parecida com o resto de nós (os caipiras hahaha). Inclusive, sempre gostei mais dos "paulistas de dentro"
Obrigada pela parte que me toca. Hehehe ❤️
Me identifiquei muito com esse seu texto, tive uma vivência parecida na Unb por ter minhas limitações também. Mas até hoje me apoio no que sua tia, sabiamente, disse! Ela tem toda razão!
Fabi, gosto muito desse seu jeito autêntico de se mostrar, sem firulas, sem pose, sendo quem você é. Excelente texto!
Fabiane, será que os bons escritores possuem um talento inato (vide Carolina de Jesus)?
Ou qualquer um consegue desenvolver uma escrita charmosa com leitura, estudos gramaticais e prática?
Nem sempre um texto tecnicamente perfeito é fluido e cativante. Será que o charme vem de fábrica?
Eu acho que é uma questão de olhar… O necessário é saber observar o mundo.
Seu texto é perfeito, Fabiane. Como você, penso que a formação acadêmica é importante se a pessoa tiver pretensões de lecionar na universidade. Só para escrever, vale mais a dedicação e a leitura do que o diploma acadêmico. Mesmo para ministrar oficinas livres, o que conta mais é a experiência de escrita. Quem procura esses cursos, eu penso, está mais em busca da prática do que dos três atos de A Poética de Aristóteles.
Escrever é de graça!!!!! Bom relembrar
Desde pequena sou aficionada pela leitura. Sou caipira assim como você, mas não passei por necessidades e muito menos pela pobreza. Pai médico, mãe empresária, a luta ali era outra: me fazer ler menos e interagir mais. Lia durante as aulas, durante as noites, durante os finais de semana... sempre preferi a literatura de companhia. Sou péssima em gramática (mesmo formada em Letras) . Aproveitei SEMPRE, todas as bibliotecas disponíveis na vida para ler e já a algum tempo consigo bancar financeiramente minha própria leitura. Acredito que para escrever, antes de mais nada, é preciso ler, ler e ler. Segue uma poesia minha sobre o assunto:
Bê-á-bá
Passo as tardes lendo
Toda escrita
Necessita
De leitura
Leitura do livro
Do tempo
Da vida
Se não lê o que está diante
Não é possível
Seguir
A escrita
Só se consome as folhas em branco
Palavras manuseadas com mãos aflitas
Ali
Aqui
Doravante
Se antes
Ter o antes
Pra contar .
Comigo aconteceu algo um pouco diferente: dentro da faculdade, descobri que eu gosto muito de estudar (eu jurava que isso não era pra mim), mesmo me achando uma burra 90% do tempo (acho que é parte da experiência universitária se sentir burro). Sou bacharel em Letras, não sei se foi uma sensação muito particular minha, ou outros letristas também sentiram isso, mas dentro do curso parece que não tem muito espaço para a pessoa escritora. Às vezes até ficava um pouco insegura de falar que sou escritora e levar um bombastic side eye, como que diz "você ACHA que é escritora, né?". O escritor parece uma entidade meio mitológica dentro do curso, distante de nós.
Ainda assim, assumi meu papel de escritora e minha experiência foi o que incentivou a minha pesquisa que agora levo para o mestrado. Durante a banca de avaliação do meu projeto para ingressar na pós, fui questionada como cheguei ao tema, contei toda a trajetória (que tem muito da minha orientadora também, que durante dois anos me ajudou a lapidar até o que temos hoje). A avaliadora me perguntou se o curso influenciava de alguma forma o meu trabalho com a escrita, e influência muito. Hoje que eu tenho acesso a isso, não tem como não influenciar.
Não acho que é preciso um curso para ser escritor, eu já lia e escrevia muito antes de sequer pensar em fazer o vestibular (e o que temos de exemplo de grandes escritores que nem mesmo são da área da humanas!!!), mas agradeço a Gabriela que decidiu se inscrever no último dia do vestibular, descobrimos algo muito legal depois disso.
Nossa, você resumiu perfeitamente o que eu sempre senti em relação ao curso de letras haha pelo menos na minha faculdade, era assim mesmo. Todo mundo que eu conheço que escrevia e entrou no curso meio que parou de escrever... criou um bloqueio. Fico feliz que com você tenha sido diferente! Não existe caminho único, essa é a verdade.
Só vim aqui dizer que sou mais uma nessa lista para corroborar a sua fala. Fui fazer letras querendo saber tudo e mais um pouco sobre produção textual, escrita. Não tive uma mísera aula sequer sobre o tema. Entrei em crise, quase abandonei o curso. Fiquei de mal com as letras por muitos anos. Me embreenhei na tradução achando que ia traduzir literatura. Nunca traduzi um livro (nunca nem prospectei editoras) e fugi de 2 testes que consegui por indicação. Sou especialista em tradução audiovisual. Agora, aos 42 anos, uma filha, muita autorreflexão e um pouco de terapia depois, eis-me aqui estudando escrita criativa, brigando com a newsletter e me jogando na empreitada de escrever o primeiro romance. E eu tenho pastas e pastas com textos meus de adolescente e um blog esquecido onde alguns poemas e textos brotaram após o meu divórcio do primeiro casamento. Eu tinha enterrado a escritora viva.
E o doido é que os professores sabem desse abandono da escrita dentro do curso! Alguns dos meus professores da poesia comentam em sala de aula que no primeiro ano eles encontram muitas pessoas que gostam de escrever (seja poesia ou narrativa), e quando encontram de novo esses mesmo alunos no último ano da graduação, a maioria não escreve mais. Sempre que tem algum evento dentro do campus voltado pra escrita/escritor (o que é raro), eu apareço. Tudo bem, a gente sabe que Letras não é apenas sobre/para escritores, mas eu acho muito triste um curso que tem a literatura na base curricular, matar a vontade de escrever.
E muito feliz que você voltou para a escrita criativa <3
Amei o tema e as dicas, Fabi! ❤️
Obrigada, querida! Vem coisa boa por aí...
Sou apaixonada pelo estudo, mas não consigo me sentir pronta ou mais adequada do que os outros. Parece que quanto mais aprendo, menos eu sei. Não é de todo ruim... Resolvi abraçar minha paixão pelos estudos como meu jeito de tentar escrever sobre o mundo, pq sem ele me sinto menos eu. Acredito que o primordial seja não largar as palavras, insistir na leitura e na escrita, até sair algo diferente. ✨
É até um sacrilégio você achar que sabe pouco, Paula. Suas referências sustentam sua escrita de um jeito muito particular
Ah mulher, esse elogio me deu energia pra encarar as aulas até sexta <3
a melhor formação para um escritor é a formação como leitor. quanto mais abrangente for o leque de leituras, mais ferramentas o escritor terá à disposição na hora de escrever.
Concordo, mas uma hora a gente também tem que evoluir de uma prática para a outra. Extrair da leitura a motivação para escrever
caipiras unidas jamais serão vencidas !!! 🤘🏽🤘🏽
Ninguém "adérruba" a gente
É muito mais uma questão de curva ao longo da graduação - disposição disciplinada para o aprendizado - do que de posição apenas - qual a bagagem acumulada quando se chegou lá.
Jesus Cristo (sou ateu), como o comentário acima soou meritocrático. Me corrigindo com a decência de reconhecer o ato falho ou invés de apenas apagar, restrinjo minha fala ao crescimento intelectual ao longo duma graduação dado mínimas condições para uma "disposição disciplinada" como um lugar sossegado e tempo.
Sim, o meu problema sempre foi a falta de disciplina hahaha
Adorei!
Apesar de a minha trajetória ser um pouco diferente, também me sentia uma menina prodígio na escola e ao chegar na faculdade vi que não era bem assim rs mas amei a frase da sua tia, vou guardar comigo!